sexta-feira, 24 de junho de 2011

" OS MEUS MEDOS "


De repente tudo ficou escuro e os relâmpagos anunciavam a chegada de um temporal. As grossas gotas de chuva começaram a pingar no pára-brisa e a minha frente o asfalto refletia a luz dos faróis do carro.

Com o painel todo aceso e o rádio desligado dava para ouvir o som da chuva, o barulho dos pneus passando sobre a pista molhada. Quando via o clarão de um relâmpago me encolhia toda. Tinha que me controlar para não deixar que o Ivan percebesse o meu medo.

Aproveitamos o feriado para ir até a nossa casa em Saquarema. Desde o verão que estava entregue aos caseiros e muitas coisas precisavam ser feitas na casa. Espero que esse temporal seja passageiro para  ser proveitosa a nossa ida.

Ainda faltava muito para chegar e a chuva aumentou ainda mais. A visão estava cada vez pior fazendo com que ele diminuísse a velocidade. Ivan estava atento no retrovisor, pois algum maluco poderia aparecer correndo atrás de nós e sujeito a acontecer uma tragédia.

Seguimos viagem com a maior atenção, mas de repente o carro caiu num buraco. Levei um susto e do jeito que sou escandalosa comecei a berrar. Só me calei quando escutei o Ivan dizer:
- Olga, faça o favor de não fazer escândalo. Preciso de muito calma porque acho que o pneu estourou. Vou ter que encostar aqui mesmo e esperar que a chuva diminua um pouco.

Ele parou o carro e saiu para colocar o triângulo e tentar sinalizar o local. Fiquei sozinha no carro morrendo de medo. Meu corpo começou a tremer sem controle.

Já tinha passado por um arrastão na serra com mais de dez bandidos assaltando todos os carros e deixando a gente sentada no meio fio. Tinha sido acometida pela síndrome do pânico e, mesmo depois tanta terapia, ainda vivia as tensões causadas pelo medo. Sabia que poderia me controlar e rezava para que tudo se resolvesse o mais rápido possível.

Estava olhando o Ivan pegando uns galhos para prender o triângulo quando vi um par de olhos amarelos bem na minha frente. Fiquei apavorada imaginando ser um lobo, um tigre eu sei lá o que, mas não era nada disso. Eram simplesmente os faróis de um carro que estava estacionado mais a frente.

Um homem alto e bem forte saiu do carro e caminhou em direção ao Ivan e ficaram conversando por algum tempo. Estava aflita e o que mais queria era chegar a Saquarema ou até mesmo voltar para casa e ficar na minha cama quentinha.

Depois de um tempo o Ivan entrou no carro rindo o que me fez ficar curiosa.
- Poxa me conta porque estás rindo e quando é que vamos sair daqui. Fui dizendo sem respirar.
- Daqui a meia hora vamos pegar a estrada novamente. Para nossa sorte o amigo aqui na frente está sem gasolina, mas tem um estepe. Então é só um ajudar o outro que os carros estarão prontos para seguirem viagem. Falou todo satisfeito.

Escutei tudo sentindo uma sensação de alívio. Fiquei mais tranqüila em saber que eles estavam indo para Saquarema também e, que o resto da viagem, não seguiria só.

A chuva continuava forte, mas o meu coração batia suavemente de tanta felicidade por estar tudo bem. O feriado prometia ser bem agitado, mas para mim estava servindo de uma grande terapia e tinha a certeza que aos poucos dominaria os meus medos.

RSantos

74ª Edição Visual
71ª Edição Conto / História
Tema: De repente tudo ficou escuro
Projeto Bloínquês

2 comentários:

  1. Muito legal,Renê! Bela inspiração! um beijo, ótimo fds e tudo de bom,chica

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  2. Muito bom!
    Boa sorte.
    bom final de semana
    bjos

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