sexta-feira, 22 de julho de 2011

"Meu querido Eu "


Estou aqui em frente a este espelho desgastado pelo tempo, mas testemunha de quase todos os momentos de minha vida. Você sabe que preciso falar com alguém, preciso desabafar e quando procuro aqueles que poderiam me ouvir não dispõem de tempo ou, quem sabe, não estão com paciência para me ouvir.

Sempre fui uma mulher que pensa mais com o coração do que com a razão. Sempre fui romântica demais, aquela super esposa, aquela super mãe. Incansável em minhas tarefas, conciliando as minhas atividades profissionais as do lar e que como dona de casa fazendo o suficientemente necessário.

Este ano lutei com todas as forças para superar a tristeza, o vazio que senti com a partida do meu único filho. Natural, inevitável e esperado. Filhos são esperados, desejados, amados e quando percebemos estão prontos a seguir suas próprias vidas, a construir sua própria família. O meu coração parecia que ia explodir de tanta aflição, mas o mundo o chamou e sei que ele tem que deixar sua marca nos caminhos que escolher da mesma forma que assim o fiz.
Agora está tudo bem, já assimilei essa fase e ocupei esse espaço com outras coisas.

Sabes que sou simplesmente uma mulher onde tenho momentos de uma grande fragilidade, momentos de uma fortaleza que removo montanhas em defesa daqueles a quem amo. Passo por fases que me sinto no abandono onde junto sentimentos de tristeza, solidão que o coração até chora, mas ajuda a achar forças para continuar essa minha caminhada pela vida.

Tem dias que acordo cheia de alegria que meu coração explode de felicidade, enfim, sou simplesmente uma mulher sempre na busca de novas realizações, de novos sonhos.

Hoje sou uma blogueira e como gosto, como me faz bem a alma. É um mundo cheio de sentimentos onde conheço pessoas lindas e maravilhosas, passeio por lugares diferentes e cada dia tem uma novidade. Uma forma que me completa é escrever, interagir com esse mundo virtual e buscar transformar em realidade todos os meus sonhos.
Confesso que até quando fico me admirando neste espelho me sinto até mais jovem. Aquele rosto cansado, abatido, amargurado já não está mais presente e sua imagem foi apagada sem eu perceber.

Acho que já falei demais e agora vou deixar você descansar minha amiga inseparável. Sei que sempre que precisar você estará aí pronta para me escutar.

Despeço-me com todo o amor e carinho que tenho por mim.


RSantos

78ª Edição Visual
Projeto Bloíquês

sexta-feira, 8 de julho de 2011

" Assistindo de camarote "


Todos que transitavam pela rua olhavam para cima curiosos em saber o que estava acontecendo. 

Em frente a um dos prédios mais altos da cidade estava um aglomerado de carros e trailers com pessoas correndo para todos os lados. Depois de muito perguntar fiquei sabendo que estavam gravando a cena de um filme.

Corri para casa para tentar ver pela janela todos os detalhes. Assim que cheguei fui logo pegando o binóculo que me deixou de frente para o espetáculo. Podia ver toda a equipe em operação.

No terraço do edifício estava uma jovem morena de cabelos longos e com os traços parecidos com a atriz protagonista. Ela atuaria como duble pulando daquela altura interpretando o suicido que fecharia o trágico fim de sua personagem.

A artista principal representa uma psicopata que após ter descoberto que seu companheiro a tinha abandonado fica transtornada. Totalmente fora de si ela entra em desespero quebrando tudo dentro de casa e correndo pelas escadas chega até o terraço onde põe um fim a sua vida.

O diretor acompanha todos os movimentos da jovem duble que vai ser amparada por uma cama elástica que já está posicionada bem na direção calculada para a sua queda. A rua ficou intransitável com uma multidão de espectadores aguardando o grande espetáculo. A jovem se preparava para o grande salto e todos estavam esperando por ela lá embaixo.

Quando a cena termina todos aplaudem a jovem artista que por trás dos bastidores arrisca a própria vida. O diretor observa a filmagem e por não ter ficado do seu agrado pede para voltar e regravar.

Nunca tinha assistido uma gravação e hoje tive a felicidade de assistir de camarote. Agora posso dizer que não é fácil a vida desse pessoal tendo que ficar horas e horas num vai e vem, gravando e regrando quantas vezes forem necessárias para no final sair uma única cena.

RSantos

76ª Edição Visual
74ª Edição Conto/ História
Projeto Bloínquês

sexta-feira, 1 de julho de 2011

" Uma espera em vão "


Neide vestira seu melhor vestido, preparara um requintado jantar a luz de velas para receber seu convidado especial.

Fred era muito especial, o homem que tomara conta de seu coração, deixando-a para ir trabalhar em Houston. Depois de tantos anos estava de volta  definitivamente a sua terra natal o que a deixou muito feliz.

Logo que pode ele a procurou e saíram algumas vezes matando as saudades da paixão que tinham um pelo outro. Foi envolvido nesse clima que Neide o convidara para jantar em sua nova casa.

Morava sozinha desde que se formara em fisioterapia conseguindo sua independência pelo bom desempenho em sua profissão.

Estava tudo pronto e já passava da hora sem o convidado chegar. Olhou para o relógio um pouco impaciente, mas preferiu relaxar e dar tempo ao tempo, pois sabia que mais um pouco ele estaria tocando a porta. Pontualidade nunca fora seu ponto forte.

Recostou-se no sofá para esperá-lo e descansar o corpo da correria do dia. Os ponteiros do relógio continuavam no seu ritmo e embalada pelo seu Tic Tac acabou adormecendo.

O dia amaheceu quando Neide abriu os olhos com a claridade dos primeiros raios do Sol. Levou um susto quando se deu conta de que já era outro dia e que tinha levado um tremendo bolo. Fora uma espera em vão.

Começou a chorar de tristeza e falando tudo que lhe dava vontade. Respirou fundo e do jeito que estava foi até a cozinha, pegou o jantar que havia preparado e arrumou numa cesta.

Foi até a garagem onde estava sua bicicleta e seguiu em direção ao campo. Foi direto ao seu lugar preferido, seu esconderijo onde conseguia se recuperar, se renovar das tristezas que a vida lhe aprontava.

Apoiou a bicicleta na árvore, estendeu uma toalha sobre a grama colocando todos os quitutes que fizera sem esquecer-se da garrafa de vinho.

O dia estava lindo e Neide aproveitou para transformar aquele jantar num belo piquenique de café da manhã. Estava muito triste e magoada, mas aprendera com a vida que nada melhor do que um dia após o outro para curar uma ferida de amor.
 RSantos


73ª Edição Visual
Projeto Bloíquês