sábado, 24 de setembro de 2011

" Os passeios de domingo "


O domingo era um dia muito especial na vida de Teresa e suas filhas. Bem cedinho pegavam o ônibus para visitar o papai João no Hospital que fica distante da cidade de onde moravam.

Há muitos anos ele convivia com problemas renais passando por hemodiálises cada vez mais constantes. Depois dos médicos tentarem de tudo não havia mais como salvar seus rins. A família tinha feito todos os testes para saber se podiam usar um dos seus, mas não eram compatíveis. Precisava urgente de um transplante e estava na fila a espera de um doador.

Ocupavam sempre o último banco. Enquanto a mamãe ficava sentada do lado da porta as três irmãs, Tatiana, Tânia e Telma, se punham de joelhos para ficarem olhando o movimento da rua pelo pára-brisa traseiro. Passavam uma hora de viagem conversando coisas da escola, dos seus sonhos de menina e de tanta coisa que a mamãe Teresa não sabia de onde vinha tanto assunto.

Quando percebiam que já estava quase chegando começavam a olhar para os carros que passavam na esperança que em um deles alguém estivesse trazendo um rim para o papai.
Este domingo o ônibus estava vazio e nos bancos à frente estavam dois homens que também costumavam ir visitar parentes no mesmo hospital.

Quanta pergunta Teresa fazia para si mesmo, pois sua preocupação era cada vez maior. Sentia muita falta de seu marido e queria que ficasse bom logo. Sentia uma tristeza muito grande e também uma insegurança em ter a responsabilidade de criar e educar sozinha suas filhas.

Queria ter mãos firmes para segurar as rédeas no caminho certo. Queria não sentir medo diante das crueldades que presenciava no seu dia a dia. Queria ter forças para proteger suas filhas enquanto eram tão inocentes e indefesas. Queria poder estar mais calma, queria deixar de chorar e ter olhos que não procurem alguém no meio da multidão e sim que olhem para os céus e enxerguem uma luz divina e abençoada.

E assim passava semana a semana seguindo a mesma rotina, com os mesmos passageiros e com as mesmas perguntas de sempre que confortavam um pouco o seu coração. Será que os seus parentes também aguardam um doador de rim? Será que o meu querido João hoje vai estar melhor? Será que já chegou a sua vez para receber um rim e fazer o transplante?

RSantos

Participação Projeto Creativité
18ª Edição Gênero - Situação
"olhos que não procurem alguém no meio da multidão"
22ª Edição Começo e Fim
"Começar com "O" e terminar com "?"
16ª Edição Visual

Um comentário:

  1. Que triste vida dessa mãe que vive nesse incerteza de aparecer um doador ao marido.. E ficou legal tua imaginação! beijos,gostei!chica

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